José Veiga, aparentemente, quer ser o Harry Potter do Benfica. É um pensamento meritório. Nada que outros já não tivessem tentado, de Vale e Azevedo a Luís Filipe Vieira. Mas nem todos podem ser Borges Coutinho. Embora, compreensivelmente, tentem. É o caso de Veiga, que tenta criar o mito de que ele pode ser o “special one”: “esta é uma das marcas que mais diferencia os actuais gurus da liderança mundial no futebol: o modo implacável como separam o trigo (da unidade colectiva) do joio (do egoísmo individual). É assim José Veiga, é assim José Mourinho, e são assim todos os líderes que seguem escrupulosamente os mandamentos de uma relação no balneário sem protectorados nem discriminações”. Veiga, nota-se, quer. Mas entre o querer e o ser, há algo que os chineses compreendem como ninguém: é preciso paciência. E isso Veiga não tem.
O livro percorre a vida do empresário (desde que cresceu “a pulso” na vida até ir para o Luxemburgo e daí até à sua ligação a Pinto da Costa e a sua posterior ida para o Benfica). É muito bem escrito, por Camilo Lourenço e José Marinho. Desvenda Veiga onde ele pode brilhar. Esconde-o, onde ele dificilmente se poderia defender. Só um exemplo: o ex-jogador do Benfica, Tiago, é citado a propósito da sua compra ao Braga (por Veiga) e da sua venda ao Chelsea (por Veiga, supõe-se). Sobre as razões porque Tiago saiu do Benfica, a história foi reescrita pelo empresário de futebol. Há momentos de glória (Figo, as ligações a Joaquim Oliveira, a influência no futebol europeu…) que são bem assinalados. E há, claro, a conquista do campeonato em 2005 pelo Benfica. Segundo o livro, isso derivou da mudança de hábitos – “por detrás desse trabalho estavam dois homens: José Veiga, o director desportivo do clube, e o Giovanni Trapattoni, o treinador”. Este fora uma “escolha pessoal” de Veiga, como não poderia deixar de ser. E, no livro, em troca, elogia Veiga vezes sem conta. Mas não nos iludamos: José Veiga não é o James Dean de “Rebelde sem Causa” nem o Benfica faz de Nathalie Wood neste filme.
Pinto da Costa é o inimigo principal de Veiga. Luís Filipe Vieira, que não sabendo nada de futebol, lhe espetou uma faca nas costas, é o inimigo secundário. Com a diferença que é líder do clube de que Veiga quer ser presidente – o Benfica. “Os ensinamentos de Pinto da Costa eram o manual de procedimentos mais avançado que José Veiga podia ter, para entrar nos esquemas mais intrincados do futebol”, refere-se no livro. Fica-se na dúvida: mas o que se pretende para o Benfica, ter um Pinto da Costa vermelho, ou ter uma outra visão do futebol, como espectáculo (e, mesmo, como negócio)? Para Veiga o importante é uma “estrutura forte”. Para isso é preciso combater o sistema “e eu conheço-o bem, porque estive lá dentro” – se voltar, promete, dará a estocada final no sistema. As opiniões recolhidas, nem por acaso, são todas elogiosas. Compreende-se: este é o livro que pode fomentar o regresso, qual D. Sebastião, de Veiga ao Benfica. Claro que há um entrave: Vieira. Refere-se no livro: Luís Filipe Vieira “não tem sensibilidade para as questões do futebol (…) é por isso que o Benfica não ganha”. É aí uma das lacunas mais visíveis da obra: tudo gira à volta de dirigentes executivos e não de jogadores – peças de um mercado onde obtêm a glória, mas onde muitos interesses se movem por detrás. Desses, Veiga não fala. Mas Zahovic diz tudo por ele: “se um jogador passar uma informação para os jornais, de certeza que o Veiga vai ser o primeiro a sabê-lo. Tem tudo controlado”. Não se percebe: Veiga controla os jornalistas, as linhas telefónicas da PT, os jornais e páginas desportivas? Será um elogio ou uma crítica camuflada? A criadora de moda Coco Chanel dizia:”Balenciaga é único. Os outros são meros desenhistas”. Veiga, neste livro, parece ser o desenhador perfeito. Mas sê-lo-á?
O Benfica é uma cereja do cimo do bolo. Todos a querem comer. E isso não é um pecado de Veiga. O Benfica poderia, se quisesse, ser o esperanto futebolístico de Portugal: a linguagem, a cor, a marca, que todos gostariam de referenciar. Em Portugal. Nos EUA, na África do Sul, na Venezuela, em França, no Japão (imagine-se, nas vésperas do Mundial da África do Sul, em 2010, uma “tournée”, um ano antes, do Benfica a Joanesburgo, à Cidade do Cabo e, depois a Angola e a Moçambique…o que seria)? Um golpe de génio?
Qual é a fórmula para dirigir um clube? Veiga dá 10 mandamentos, onde o papel do director desportivo é fulcral. Eu modestamente acrescentaria: explorar as ineficiências do mercado de transferências; substituir os melhores jogadores, antes de vender estes; compre-se brasileiros ou africanos, ajude-se à sua adaptação, dê-se aos jogadores das escolas as mesmas oportunidades que se dão aos adquiridos (veja-se o caso vergonhoso de Moreira no Benfica); cresça-se devagar sem dívidas colossais; as transferências devem ser decididas por quem faz parte da estrutura profissional de um clube e não por quem está de passagem (a começar pelos treinadores e muitos dirigentes). Mas como isso não sucede em Portugal, todos podem sonhar. E, neste livro, o sonho ainda comanda a vida de José Veiga.
O livro percorre a vida do empresário (desde que cresceu “a pulso” na vida até ir para o Luxemburgo e daí até à sua ligação a Pinto da Costa e a sua posterior ida para o Benfica). É muito bem escrito, por Camilo Lourenço e José Marinho. Desvenda Veiga onde ele pode brilhar. Esconde-o, onde ele dificilmente se poderia defender. Só um exemplo: o ex-jogador do Benfica, Tiago, é citado a propósito da sua compra ao Braga (por Veiga) e da sua venda ao Chelsea (por Veiga, supõe-se). Sobre as razões porque Tiago saiu do Benfica, a história foi reescrita pelo empresário de futebol. Há momentos de glória (Figo, as ligações a Joaquim Oliveira, a influência no futebol europeu…) que são bem assinalados. E há, claro, a conquista do campeonato em 2005 pelo Benfica. Segundo o livro, isso derivou da mudança de hábitos – “por detrás desse trabalho estavam dois homens: José Veiga, o director desportivo do clube, e o Giovanni Trapattoni, o treinador”. Este fora uma “escolha pessoal” de Veiga, como não poderia deixar de ser. E, no livro, em troca, elogia Veiga vezes sem conta. Mas não nos iludamos: José Veiga não é o James Dean de “Rebelde sem Causa” nem o Benfica faz de Nathalie Wood neste filme.
Pinto da Costa é o inimigo principal de Veiga. Luís Filipe Vieira, que não sabendo nada de futebol, lhe espetou uma faca nas costas, é o inimigo secundário. Com a diferença que é líder do clube de que Veiga quer ser presidente – o Benfica. “Os ensinamentos de Pinto da Costa eram o manual de procedimentos mais avançado que José Veiga podia ter, para entrar nos esquemas mais intrincados do futebol”, refere-se no livro. Fica-se na dúvida: mas o que se pretende para o Benfica, ter um Pinto da Costa vermelho, ou ter uma outra visão do futebol, como espectáculo (e, mesmo, como negócio)? Para Veiga o importante é uma “estrutura forte”. Para isso é preciso combater o sistema “e eu conheço-o bem, porque estive lá dentro” – se voltar, promete, dará a estocada final no sistema. As opiniões recolhidas, nem por acaso, são todas elogiosas. Compreende-se: este é o livro que pode fomentar o regresso, qual D. Sebastião, de Veiga ao Benfica. Claro que há um entrave: Vieira. Refere-se no livro: Luís Filipe Vieira “não tem sensibilidade para as questões do futebol (…) é por isso que o Benfica não ganha”. É aí uma das lacunas mais visíveis da obra: tudo gira à volta de dirigentes executivos e não de jogadores – peças de um mercado onde obtêm a glória, mas onde muitos interesses se movem por detrás. Desses, Veiga não fala. Mas Zahovic diz tudo por ele: “se um jogador passar uma informação para os jornais, de certeza que o Veiga vai ser o primeiro a sabê-lo. Tem tudo controlado”. Não se percebe: Veiga controla os jornalistas, as linhas telefónicas da PT, os jornais e páginas desportivas? Será um elogio ou uma crítica camuflada? A criadora de moda Coco Chanel dizia:”Balenciaga é único. Os outros são meros desenhistas”. Veiga, neste livro, parece ser o desenhador perfeito. Mas sê-lo-á?
O Benfica é uma cereja do cimo do bolo. Todos a querem comer. E isso não é um pecado de Veiga. O Benfica poderia, se quisesse, ser o esperanto futebolístico de Portugal: a linguagem, a cor, a marca, que todos gostariam de referenciar. Em Portugal. Nos EUA, na África do Sul, na Venezuela, em França, no Japão (imagine-se, nas vésperas do Mundial da África do Sul, em 2010, uma “tournée”, um ano antes, do Benfica a Joanesburgo, à Cidade do Cabo e, depois a Angola e a Moçambique…o que seria)? Um golpe de génio?
Qual é a fórmula para dirigir um clube? Veiga dá 10 mandamentos, onde o papel do director desportivo é fulcral. Eu modestamente acrescentaria: explorar as ineficiências do mercado de transferências; substituir os melhores jogadores, antes de vender estes; compre-se brasileiros ou africanos, ajude-se à sua adaptação, dê-se aos jogadores das escolas as mesmas oportunidades que se dão aos adquiridos (veja-se o caso vergonhoso de Moreira no Benfica); cresça-se devagar sem dívidas colossais; as transferências devem ser decididas por quem faz parte da estrutura profissional de um clube e não por quem está de passagem (a começar pelos treinadores e muitos dirigentes). Mas como isso não sucede em Portugal, todos podem sonhar. E, neste livro, o sonho ainda comanda a vida de José Veiga.
2 comentários:
Boa! Vou linkar no Corta-Fitas. Abraço
Ele não fala do jogo do Estoril no Algarve, pois não? Nem dos barretes que foi enfiando, com jogadores de quinta categoria rotulados de craques? Concerteza que não...
Perdia o brilho...
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