29.11.07

A língua bifurcada de Abranhos

Em Portugal continua a pensar-se a língua como um remédio de que só nós temos a fórmula. E isso permite-nos que possamos ganhar dinheiro na nossa mercearia sem que brasileiros, angolanos ou cabo-verdianos façam do português um baile de experiências. Em Portugal continuamos a actuar como o Abranhos de Eça: cobardemente, rastejando, só para termos um quintal rentável. É por isso que a reforma ortográfica causa tantas fricções neste jardim onde o maquiavelismo só tem um objectivo: o “poleiro”.
Porque é que há tantas resistências ao acordo ortográfico? Porque os editores de livros escolares acham que se houver acordo os brasileiros começam também a vender. Isabel Pires de Lima, alma acusada de ser ministra da Cultura, quer uma moratória de 10 anos para haver tempo para mudar. Fora isso o que é que se perde? Nada. A língua portuguesa há muito que deixou de ser nossa: junte-se só brasileiros e angolanos e veja-se onde está a inovação e a capacidade de conquistar novos mercados. Depois, os empresários portugueses têm tudo a ganhar com um acordo: as empresas portuguesas têm um habitat natural ente o Brasil e África.
Uma escrita idêntica favorece acordos. Há 17 anos que se iniciou a discussão. O Brasil preparou-se para a mudança. Em Portugal vivemos de habilidades para não discutirmos o que era visível. Agora, como sempre, dizemos que não temos tempo? Azar. Se Brasil e Angola avançarem para o acordo, podemos ficar a chorar de xaile. À moda do século XIX. Enquanto, lá fora, todos escutam Mariza, com o seu fado dos sete mares.

28.11.07

Airport One

Nos idos dos anos 80 um grupo criou um hit sublime: Airport. Nele os aviões sustituiam barcos, comboios, burros e camelos. Era o início da nova mobilidade. Este país novo rico, com dinheiros que o sr. Mário Lino gere como num casino, (que não são dele, é claro!)tem um sonho: a Ota é a última wild frontier. Vai custar muitos milhões, mas que se lixe, não é ele que paga. E os lisboetas ficam mais longe do mundo. Por mim venha Acolhece, Portela+1 ou +2. Estamos ainda a discutir o aeroporto de Lisboa e não o único hipermecado de aviação do país, não é? Para o Governo o que interessam são os interesses de patos-bravos, de financiamentos de partidos (será, ou é uma teoria da conspiração?) e de interesses dúbios. O resto nada que não se resolva com um imposto...
A propósito de aeropostos o Independent de hoje faz uma lista dos piores aeroportos do mundo. Pergunta: "Porque é que os aeroportos são tão maus? Talvez orque os viajantesnão são cnsumidores mas cativos e os aeroportos exploram-nos sem piedade". Na lista lá vêm Barajas (Madrid), Paris/CDG, Heathrow, Delhi, Jakarta, Baghdad, Los Angeles, Rangon, Moddishu, Gatwick e Moscovo. E a Portela. Olha, não aparece. Mande-se já Mário Lino fazer o seu trabalho para Baghdad ou para Rangoon. Ou mesmo para Barajas...

Olá, estou de volta

Pois bem, fui transplantado há 15 dias. E hoje voltei a casa. Portanto volta a haver voz neste local nómada. A coluna que habitualmente havia diariamente no Jornal de Negócios, vai haver aqui, enquanto estiver de baixa. Já a partir de amanhã.
Mas, olho para o sol lá fora, e o país continua a parecer-me cada vez mais triste. É igual a um fantástico excerto de um livro que li no internamento: "Pânico no Scala" de Dino Buzzati.
Escrevia este mágico da escrita e da BD: "uma lei proibe formalmente que nos ocupemos de montanhas, que não subamos às montanhas, nem fallemos delas e, nem mesmo, eventualmente, as contemplemos. 'Eventualmente' é o que diz a palavra do legislador com uma exigência considerada, pelo próprio, evidentemente, excessiva. Porque as montanhas continuam sempre sobranceiras à cidade, a norte, e dia e de noite, com o seu esplendor".
É Portugal, não?

2.11.07

E agora, Mário Lino?

Mário Lino já disse que vai dar "uma vista de olhos" pelo estudo da CIP sobre a hipótese do aeroporto de Lisboa se situar em Alcochete. Para quem (e, se calhar, ainda está) com os olhos virados para a Meca da Ota, deveria ter um bocadinho de tento na língua. Já se sabe que ele disse que uma decisão destas, será "política" (num país civilizado o ministro já teria sido removido), mas espero que tudo não seja uma cortina de fumo. Para que tantos interesses imobiliários na Ota não se revelem um ganho para uns quantos e um desastre nacional para os cidadãos.