20.12.07

GATO NO SOFÁ III


A FRASE
“Sendo Portugal um país altamente dependente dos fluxos de capital externo e com elevadas taxas de endividamento que, no caso dos particulares, já atinge 124% do rendimento disponível, o que associado à tendência de aumento da taxa de desemprego que, no terceiro trimestre, andou pelos 8%, sendo uma das mais elevadas da União Europeia, dá ideia das dificuldades do país para manter níveis de crescimento do consumo e do investimento que possibilitem a progressão do PIB”
José Silva Lopes, carta aos ASSOCIADOS do MONTEPIO GERAL, Novembro de 2007

Policía secreta cor-de-rosa

Sócrates, um dia destes, escreve o seu auto-elogio. Estilo uma auto-entrevista, em que ele formula as questões e depois, humildemente, diz: Ainda bem que me faz essa pergunta. O Primeiro-ministro está ufano com o fortalecimento da UE! Há-de seguir os passos de Guterres e Barroso. Mas, por cá, no “País tecnológico” reparamos que a taxa de penetração da Internet de banda larga é inferior à de potentados como a Letónia e a Lituânia. Porquê? Porque, em Portugal, para se ter a tecnologia que nos terá mais competitivos cada português terá de gastar mensalmente três por cento do salário médio. A Justiça também é uma preocupação do Governo e é por isso que a PJ do Porto se rebela e o ministro da pasta parece Pilatos. Como se não bastasse, o célebre caso do FSE/UGT, que se arrastou 20 anos pelos tribunais, acabou devido a prescrição. Ao “Caso Casa Pia” estará reservado o mesmo fim? Mas, convenhamos, Sócrates lê. Nas ultimas semanas, se o “jet-lag” de tanta viagem não o afectou, deve ter lido com atenção Aldous Huxley de “Admirável Mundo Novo” e “O Triunfo dos Porcos” de Orwell. Só assim se compreende A nova grande reforma do governo: a promoção da delação. O Sistema de Queixa Electrónica, criado pelo Ministério da Administração Interna, é a polícia secreta “Cor-de-Rosa” (a verdadeira ideologia socrática) feita em estilo “Paparazzi” por todos os cidadãos. Estaline não teve um gosto tão popular…
Desculpem a questão envergonhada: o “núcleo duro”de Sócrates não se parece, cada vez mais, com um comité central dos “bons velhos tempos” do PCP?

A ubiquidade
Edite Estrela tornou Sócrates um Deus. “Parece que tem o dom da ubiquidade”. Governa na Europa e em Portugal, disse a formosa euro-deputada, que sabe como se deve escrever em português. Mas há algo que me intriga: ubiquidade quer dizer estar para aí em dois lados ao mesmo tempo, não? Na Europa ainda entendo: ele esteve lá, distribuindo sorrisos e recebendo elogios. Mas, em Portugal, alguém tem visto sinal de uma obra sua, para além das “tecnologias”? Só mesmo Edite Estrela, que, segundo consta, frequenta mais a UE do que este sítio…

ARRÁBIDA sempre
Passei lá muitas das férias da minha infância. Olhava para o portinho, ia apanhar polvos num barco a remos, via as senhoras a trazerem uma vez por semana as suas frutas e hortaliças em burros. Mas era sobretudo a beleza natural da Arrábida que nunca esqueci. Até quando ainda como um mel fabuloso, de urze (oferta generosa do Octávio Ribeiro) sinto o aroma e a beleza daquela serra única. Que continua a ser destruída impiedosamente por quem come as areias das suas entranhas. É uma morte anunciada. Sob o olhar e o silêncio de um Governo que se diz amigo da ecologia .

Lisboa LIMPA
Lisboa está cada vez mais suja. Agora que passeio pelas ruas a pé, noto a falta de limpeza. E, como se sabe, quando as entidades camarárias não promovem a limpeza, todos acabam por deitar mais um papel para o meio do chão. Sei que o orçamento é escasso, mas, caro António Costa, Lisboa Limpa não é uma forma de também tornar uma cidade mais iluminada para alfacinhas e VISITANTES?

FILME – Control
É um filme sobre a minha juventude. Sobre a Joy Division, sobre o desespero dos jovens suburbanos, como Ian Curtis, como muitos dos que cresceram comigo no Barreiro. Recordo, ao ver o filme de Antón Corbijn, os belos textos de Miguel Esteves Cardoso, nos anos 80, no “se7e”. E, claro, os sons da Joy Division, da Durutti Column, dos New Order. Ainda hoje.

SÃO FRANCISCO XAVIER sonoro
Foi uma surpresa. Descortinei-o numa discoteca e tenho-o ouvido vezes sem conta: “La ruta del Oriente” dos Hespèrion XXI e da La Capella Real de Catalunya de Jordi Savall. Uma edição discográfica fabulosa (com dois CD e um livro), sobre a vida de São Francisco Xavier, especialmente no Japão. A vida de um missionário portugués. A edição mostra algo muito curioso: a importância que Portugal dá à sua história. Tudo veme m castellano, em francês, em inglês, em alemão e, claro, em catalão. Em português não. Há um Ministerio da Cultura neste país? Ou é uma ficção da nebulosa socrática?


MAIS PLUS
Fui pela primeira vez aos supermercados Plus. E deparei com a marca Casa de Pasto, lançada este mês, onde um galo mostra o que há de bom em Portugal: do azeite, aos queijos e aos doces, e passando pelo peixe e pela padaria. Coisas boas a preços convidativos. Vale a pena

SEMPRE A HORAS
A Boutique dos Relógios editou um livro magnífico de Fernando Correia de Oliveira: “Dicionário de Relojoaria”. O tempo, os homens que fizeram com que compreendessemos o seu valor, ali está, contado ao sabor de uma pena muito bem informada. Para ler com tempo. E para aprender que o tempo não é infinito.

Kaká Sempre
Os portugueses podem ter ficado magoados. Cristiano Ronaldo não ganhou o troféu da FIFA para o melhor jogador do mundo. Ganhou Ricardo Izecson dos Santos Leite, vulgo Kaká, e venceu bem. Ninguém quer acreditar que um jogador filho da classe média de São Paulo (o atípico futebolista, que é quase sempre de classes pobres). Evangélico, Kaká é olhado de forma desconfiada pelo mundo do futebol. Mas vê-se nos seus olhos o brilho da sua alegria de jogar e de criar magia nos estádios. Diga-se em abono da verdade outra coisa: a melhor do mundo foi, em futebol, uma brasileira: Marta, que é filha de uma família muito humilde de Alagoas. Juntos, no palco, disseram uma coisa simples: todos podem obter o que desejam.

1 comentário:

PA disse...

Olá Fernando,
Também eu vivi a minha adolescência no Barreiro ao som dos Joy Division. Apesar de nunca nos termos falado, julgo que me lembro de si através de amigos comuns.
Bom blogue!
Um abraço