22.1.07

O preço e o valor

O povo, geralmente, procura líderes políticos que não se limitem a diagnosticar os males da sociedade. Quer que eles proponham a cura. Os cidadãos de Odemira talvez gostassem de ver o ministro da Saúde a viver longe dos centros urbanos. Onde fazer contas não é tão fácil. O mais difícil é que elas resolvam alguma coisa no maior concelho do país, cujos habitantes ficam longe dos centros de decisão.
Oscar Wilde descrevia um cínico como alguém que “sabia o preço de tudo e o valor de nada”. O ministro da Saúde sabe o preço de ter serviços na periferia. Não sabe o valor de algumas coisas que eles poderiam resolver num concelho longínquo. Leu pouco Oscar Wilde e muito Milton Friedman. Assim não escuta os gritos da população que sente o que é esperar horas infinitas por uma ambulância que pode salvar uma vida. Daí a insensibilidade urbana aos mortos que se vão sucedendo em Odemira.

6 comentários:

Anónimo disse...

O problema, é mais complexo que umas "simples" horas(?) de espera. Lá -como cá (Lisboa)- o incompreensível é num Centro de Saúde, os médicos e enfermeiros não saberem(!)administrar suporte básico de vida, habituados que estão a receitarem "simples" antibióticos...
Falta -isso sim- mais preparação a nível da emergência hospitalar!
Lá -como cá- nos CATUS, a estabilização de um doente, só pode ser efectuada com ajuda da tripulação do VMER. Quando, todo o material necessário, se encontra no edifício do (dito) Centro de Saúde!!

M

Mónica (em Campanhã) disse...

o(a) caro(a) homónimo(a)do comentário anterior tem ideia da frequência com que o pessoal dos Centros de Saúde tem situações de emergência? e do tempo necessário para formar e manter esse pessoal apto a fazer (não suporte básico de vida, como diz, porque isso é o que qualquer pessoa deveria saber fazer e resume-se a pouco mais que umas massagens e respirações, mas sim) suporte intermédio e avançado de vida (que é o necessário para intervir medicamente numa situação de emergência)? acha que os cuidados de saúde primários, com a escassez de pessoal que têm (quase não há CS sem utentes a descoberto e vagas no quadro por preencher) pode suportar a retirada do pessoal que lhe resta para essa formação (que tem de ser periódica)?

é natural que o nosso (eu trabalho num CS) treino e formação contínua se centrem nos milhares de problemas em permanente evolução da nossa prática diária e são bastante mais vastos do que receitar "uns simples antibióticos". suporte básico de vida até fazemos, mas nem esse conseguimos fazer anualmente como recomendado.

trabalho há 7 anos num CS com 50000 utentes. sabe quantos suportes básicos de vida já tive de fazer? 0. sabe quantos EAP já atendi? 0. quantas suspeitas de síndromes coronários agudos? 1, e não se confirmou. reacções anafiláticas? 1. edema da glote? 0. estados de mal? 0. crianças com IVAS víricas? diariamente. cefaleias? idem. depressões? várias por dia. dores músculo-esqueléticas? idem. agudizações de DPCO não graves? todas as semanas. cuidados a doentes terminais? vários por ano.só para se ter uma ideia daquilo que estamos a falar.

a emergência para os emergencistas.

Anónimo disse...

Minha cara "enfermeira":

As (verdadeiras) situações de emergência, verificadas nos Centros de Saúde, são encaminhadas para o hospital da área. O que eu digo (e provo) é que os funcionários dos Centros, não têem capacidade para lidar com situações de "emergências médicas".

O suporte básico de vida, não se limita a "massagens e respirações".
O suporte avançado de vida tem de ser prestado no local próprio, com pessoal habilitado para o efeito...que, nos Centros de Saúde (queira desculpar-me a insistência)não o é.

Não reinvindique (aqui pelo menos) os problemas que nos afectam a todos.
O socorro ás vitimas impõe-se sobre todas as quezilias.

Conheço, perfeitamente o funcionamento de inúmeros Centros de Saúde. Lamento, em todos eles, os maus profissionais que por ali vegetam.
Os médicos com o rosto tapado!
As enfermeiras desumanas! As auxiliares rudes!

Minha cara, desde já os meus parabéns. Provavelmente, é a única -profissional- a entregar-se de corpo e alma.
Pena é, não exercer o seu profissionalismo, numa cidade chamada Odemira.
Repare que tinha salvo 2 vidas...

Quanto ás situações que relatou mais não prestou, do que cuidados paliativos.

M

Mónica (em Campanhã) disse...

além de não saber o que é S B Vida, também não sabe o que são cuidados paliativos. boa noite

Vìtor Matos disse...

Sim, meu caro Fernado, sábias palavras. Cá eu não sei o preço, mas para mim preço não há, porque conheço o valor de ter toda a família lá no Alentejo - avós, pais, irmão. E sei como eles podem estar vulneráveis.

Unknown disse...

Sou enfermeira no Centro de Saúde de Odemira e entristece-me o que se diz do nosso Centro de Saúde porque todos os enfermeiros dão o seu melhor mesmo com a muita carga horária a que estão submetidos, e depois vêm estes leigos no assunto dizer mal só por dizer porque apostava que nunca foi cá atendido para poder dizer que as enfermeiras são desumanas.Ao contrário do que a colega diz,nós enfermeiros do Centro de Saúde de Odemira nunca nos é negada a formação só não fazemos se não quisermos e temos quase todos o curso do Suporte Imediato de Vida.
E mais não digo porque não tenho medo de adoecer em Odemira.
Cumprimentos e já agora saúde para todos.
Enf.Rita