26.3.07
A idade do papel
O papel é, segundo nos dizem, uma invenção dos Chineses; a verdade é que não sentimos, face ao papel do Ocidente, outra impressão que não a de estarmos perante uma matéria estritamente utilitária, enquanto nos basta ver a textura de um papel da China ou do Japão, para sentir uma espécie de tepidez que nos faz sentir o coração. Pensamento de Junichiro Tanizaki na idade do sms e da Internet. Para meditar.
15.3.07
Curvatura do círculo
O guru de Tony Blair (para lá do princípe das trevas, Peter Mandelson), Anthony Giddens assina hoje uma prosa no Guardian que Sócrates, e talvez António Costa, devessem ler. Diz ele: eu proponho que o Labour desenvolva um Contrato com o Futuro. O que eu quero dizer com esta frase é que o Labour deve oferecer aos cidadãos para iniciar um futuro para o país. Entre outras coisas Giddens diz que deste coontrato deve fazer parte o regresso à tradição social-democrata; ou seja, um novo egualitarismo. Uma política de inovação e não o aumento de impostos deve ser central neste princípio. Mais poder para as cidades, num mundo globalizado, deve ser outro dos items deste contrato. Mais, para ele, o "wellfare state" deve ser de investimento social. Temas para discussão, num jogo em que, internamente, Sócrates fez do PS um deserto de ideias. De "yes man" que dobram a espinha e perguntam que carta devem jogar quando estão defronte do líder. O PS é hoje a curvatura do círculo. Ganharia muito se debatesse ideias. Digo eu...
14.3.07
Comissários do povo
Um dos estadistas que ficou na história, Benjamin Disraeli, disse que: há três tipos de mentiras - mentiras, mentiras terríveis e estatísticas. A forma como a tutela do Ministério da Cultura afastou, como se fosse lixo, Paolo Pinamonti, é uma inflação de falsidades. Mas adiante: cada um escuta a ópera que deseja, desde que não seja em nome do público contribuinte. O ministério, desde há algum tempo, tem funcionado como patrulha ideológica dos melhores tempos de Estaline: a cultura de massas serve para estrangular tudo o que foge ao gosto hegemónico reinante. Isabel Pires de Lima e Vieira de Carvalho são os comissários do povo da nova cultura proletária e televisiva que torna a vida portuguesa num tédio perfeito.
13.3.07
Contra a pequenez
O ministro da saúde defende o fecho de centros de urgência em locais onde há poucas pessoas. A ministra da educação defende o fecho de escolas onde há poucos alunos. Em Portugal somos contra tudo o que é pequeno. Somos a favor de tudo o que é grande: os maiores centros comerciais da Europa, a maior árvore de Natal do mundo. Para um país tão pequeno temos direito a ministros a mais. Poderíamos dispensar uns quantos. E porque não fechar o país? Alguém notava a falta deste este jardim com 10 milhões de habitantes? Alguém reparou que pequenez também é um sinal de distinção nas maiorias que gerem tudo globalmente?
12.3.07
O grande Steve Canyon
A pouco e pouco tenho estado a recuperar as pranchas e tiras diárias de um dos meus grandes heróis de Banda Desenhada: Steve Canyon. Para alguns era um reaccionário. Para outros, como Hugo Pratt, o excelente Milton Caniff era uma inspiração perfeita. Agora estou a ler as suas aventuras de 1952, que decorrem no Extremo Oriente. O Oriente, palco da sua fascinante BD que era Terry e os Piratas. Como se diz numa tira: não há regras sobre o que fazer em tempos como estes. É verdade. E o Oriente é propício a isso. A Grande Muralha da China clama pelo mistério, pelas sombras e pela sabedoria. Ela é como as árvores sólidas: fica, mesmo quando passam as mais devastadoras tempestades da globalização.
11.3.07
Novas políticas, velha tirania
O mundo está a mudar. A política também. A revista Prospect abriu um debate sobre o que se pode esperar da esquerda e da direita nos dias que correm. Estive a ler, porque quase todos os partidos giram à volta do centro, como em Portugal. Muito inyeressante é a resposta do escritor AS Byatt: somos governados por uma espécie de populismo consensual - ideias, conceitos e políticas crescem nos blogs, nos sites nos "focus groups" e afins (quer Barack Obama e Hillary Clinton anunciaram as suas candidaturas na Internet). Diz ele que isto é assustador, porque leva à tirania das maiorias. E não é verdade?
1.3.07
Os "Good Times" de Portas
Paulo Portas volta como um alquimista de si próprio. Como alguém que se viu do outro lado do espelho e sentiu que tinha novamente de saltar para o lado de lá. Para ficar do lado de cá da política. Portas quer dizer aos portugueses que eles não devem gostar do "show" político que estão a ver. E que devem adquirir bilhetes para o seu regresso ao palco. Portas diz que, na política, a palavra "vanguarda" foi substituída por "revival". Paulo Portas volta a cantar "Good Times", como uma banda que nunca deixou de si imitir a si própria: os Chic. O Bom Tempo da Direita é, para Portas, o seu. Portas só esquece uma coisa: a Direita, na época do centralismo democrático de Sócrates, está fora de moda. É preciso voltar a criar a moda. Portas deve lembrar-se que antigamente estilo significava individualismo. Hoje, na era do consumo, significa escolha. E para centro comercial das escolhas à vontade do freguês já temos Sócrates.
Cinco euros por Jobim
Custou-me cinco euros a biografia de Antonio Carlos Jobim, Um Homem Iluminado. Comprei-o num alfarrabista. Pouco pela história da vida de um genial criador. Tiro de lá um poema. Lindo, pois claro:
"Toda a vez que uma árvore é cortada aqui na Terra,
eu acredito que ela cresça outra vez noutro lugar
- em algum outro mundo.
Então, quando eu morrer;
este é o lugar para onde quero ir.
Onde as florestas vivam em paz.
Que palavras iluminadas por um violão que nunca se calará. Por um nómada do amor.
"Toda a vez que uma árvore é cortada aqui na Terra,
eu acredito que ela cresça outra vez noutro lugar
- em algum outro mundo.
Então, quando eu morrer;
este é o lugar para onde quero ir.
Onde as florestas vivam em paz.
Que palavras iluminadas por um violão que nunca se calará. Por um nómada do amor.
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